3 de dezembro de 2010

Lançamento do livro "Brasil, mais que um país, uma inspiração"


      Será lançado no dia 04 de dezembro na Academia de Arte de Cabo Frio - ARTPOP - a antologia "Brasil, mais que um país, uma inspiração" oraganizado pela escritora Izabelle Valadares. Participam da antologia diversos escritores, dentre os quais estou eu com a crônica "Onde estão os cérebros?"
    Os demais participantes podem ser vistos no blog da organizadora do livro através do link http://blogdaizabellevalladares.blogspot.com/2010/11/lancamento-do-livro-brasil-mais-que-um.html
       É ainda com grande alegria que anuncio o meu próximo livro que será lançado em breve. "Fagulhas e Desejos" vem recheado de sonetos, crônicas, poesias e mensagens diversas. É a saída de um "jejum" de sete anos sem publicação literária. Estou muito feliz e espero que meus leitores também apreciem.


19 de abril de 2010

Combate à Pedofilia na Igreja


   
    Ficamos estarrecidos recentemente com os noticiários que apontam o Monsenhor Luiz Marques e outros sacerdotes da cidade de Arapiraca, Diocese de Penedo - AL, como padres pedófilos. Foi triste ver as matérias veiculadas na televisão, nas manchetes de jornais e rádio. Principalmente quando me recordo da infância quando nem energia elétrica existia onde eu nasci e ouvíamos todos os domingos a missa celebrada por Monsenhor Luiz, que apresentava forte sinal de ortodoxia evangélica. Mais triste ainda é ver atitudes tão monstruosas contra crianças e adolescentes causadas por um sacerdote da igreja. E temos visto situações como esta quase todos os dias em alguma parte do mundo.
          
     Nosso total repúdio a este tipo de procedimento que precisa ser punido exemplarmente. Hoje a televisão divulgou a prisão do Monsenhor Luiz Marques. É preciso que haja sim punição não somente pela justiça, mas também pela igreja, não dá mais para ficarmos acompanhando este tipo de covardia ser simplesmente perdoado em uma confissão. O dano precisa ser reparado, a própria igreja diz isso no seu Catecismo. É preciso que haja reparação e punição para todos os autores dessa torpeza.

     E quanto aos coroinhas, creio que haverá um receio muito grande por parte dos pais. Acredito também que a igreja deveria abolir de uma vez por todas os coroinhas - crianças e adolescentes - e que o serviço de ajuda aos sacerdotes fosse executado por acólitos e seminaristas tendo em vista a gravidade e o grande número de padres pedófilos que se somam a cada dia. Eu particularmente, não permitiria a um filho meu ser coroinha nos dias de hoje.

***

       Lembro-me quando era criança de como tínhamos respeito e veneração pelos padres. Durante muito tempo, até alguns anos de minha adolescência, nutri um desejo de tornar-me padre, de servir a Deus integralmente. Desejo este que pouco a pouco foi cedendo lugar para outras funções e para as profissões que abracei. No entanto, o respeito e a admiração pelos sacerdotes sempre estiveram comigo. Durante muitos anos, como participante ativo da Renovação Carismática Católica da Diocese de Palmeira dos Índios, dei palestras, realizei orações, defendi os sacerdotes da igreja com muito respeito e carinho.

       Guardo na memória boas recordações de grandes sacerdotes, de verdadeiros servos de Deus com vocação e carisma. Várias vezes, na Capela do Colégio Cristo Redentor, fiz homenagens ao Padre Adalto que celebrava para os jovens naquela capela. Muitos outros grandes servos de Deus de nossa diocese nos enchem de alegria e de "orgulho". Recordo-me do período em que dirigi o grupo de oração da Igreja de São Vicente de Paulo, onde bebia das homilias do Padre Francisco Falcão com sua sabedoria e persuasão na missa que antecedia o referido grupo.

       Dentre tantos outros sacerdotes, gostaria de citar o Padre Thiago Henrique Soares com seu ardor missionário e sabedoria tem atraído muitos jovens para escutar a Palavra de Deus.
         Temos uma série de exemplos de bons e excelentes sacerdotes em nossa diocese e em toda a igreja, não podemos centralizar nossos sentimentos nos sacerdotes pedófilos, naqueles que não têm vocação que, por um ou outro motivo resolveu entrar para o sacerdócio. Nem tampouco podemos colocar toda a culpa da pedofilia no celibato, porque se assim fosse, não haveria pedófilos fora da igreja. E temos visto que esta mazela está espalhada por todos os setores da sociedade.
      
     Precisamos rezar pela santidade dos sacerdotes, mas também precisamos cobrar punição e correção para os desviados.

          Segue um artigo de Dom Odilo Scherer acerca dos últimos acontecimentos na igreja.



POR CARDEAL ODILO PEDRO SCHERER
As notícias sobre pedofilia, envolvendo membros do clero, difundiram-se de modo insistente. Tristes fatos, infelizmente, existiram no passado e existem no presente; não preciso discorrer sobre as cenas escabrosas de Arapiraca… A Igreja vive dias difíceis, em que aparece exposto o seu lado humano mais frágil e necessitado de conversão. De Jesus aprendemos: “Ai daqueles que escandalizam um desses pequeninos!” E de São Paulo ouvimos: “Não foi isso que aprendestes de Cristo”.
 As palavras dirigidas pelo papa Bento XVI aos católicos da Irlanda servem também para os católicos do Brasil e de qualquer outro país, especialmente aquelas dirigidas às vítimas de abusos e aos seus abusadores. Dizer que é lamentável, deplorável, vergonhoso, é pouco! Em nenhum catecismo, livro de orientação religiosa, moral ou comportamental da Igreja isso jamais foi aprovado ou ensinado! Além do dano causado às vítimas, é imenso o dano à própria Igreja.
 O mundo tem razão de esperar da Igreja notícias melhores: Dos padres, religiosos e de todos os cristãos, conforme a recomendação de Jesus a seus discípulos: “Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que eles, vendo vossas boas obras, glorifiquem o Pai que está nos céus!” Inútil, divagar com teorias doutas sobre as influências da mentalidade moral permissiva sobre os comportamentos individuais, até em ambientes eclesiásticos; talvez conseguiríamos compreender melhor por que as coisas acontecem, mas ainda nada teríamos mudado.
 Há quem logo tem a solução, sempre pronta à espera de aplicação: É só acabar com o celibato dos padres, que tudo se resolve! Ora, será que o problema tem a ver somente com celibatários? E ficaria bem jogar nos braços da mulher um homem com taras desenfreadas, que também para os casados fazem desonra? Mulher nenhuma merece isso! E ninguém creia que esse seja um problema somente de padres: A maioria absoluta dos abusos sexuais de crianças acontece debaixo do teto familiar e no círculo do parentesco. O problema é bem mais amplo!
Ouso recordar algo que pode escandalizar a alguns até mais que a própria pedofilia: É preciso valorizar novamente os mandamentos da Lei de Deus, que recomendam atitudes e comportamentos castos, de acordo com o próprio estado de vida. Não me refiro a tabus ou repressões “castradoras”, mas apenas a comportamentos dignos e respeitosos em relação à sexualidade. Tanto em relação aos outros, como a si próprio. Que outra solução teríamos? Talvez o vale tudo e o “libera geral”, aceitando e até recomendando como “normais” comportamentos aberrantes e inomináveis, como esses que agora se condenam?
 As notícias tristes desses dias ajudarão a Igreja a se purificar e a ficar muito mais atenta à formação do seu clero. Esta orientação foi dada há mais tempo pelo papa Bento XVI, quando ainda era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Por isso mesmo, considero inaceitável e injusto que se pretenda agora responsabilizar pessoalmente o papa pelo que acontece. Além de ser ridículo e fora da realidade, é uma forma oportunista de jogar no descrédito toda a Igreja católica. Deve responder pelos seus atos perante Deus e a sociedade quem os praticou. Como disse São Paulo: Examine-se cada um a si mesmo. E quem estiver de pé, cuide para não cair!
 A Igreja é como um grande corpo; quando um membro está doente, todo o corpo sofre. O bom é que os membros sadios, graças a Deus, são a imensa maioria! Também do clero! Por isso, ela será capaz de se refazer dos seus males, para dedicar o melhor de suas energias à Boa Notícia: para confortar os doentes, visitar os presos nas cadeias, dar atenção aos abandonados nas ruas e debaixo dos viadutos; para ser solidária com os pobres das periferias urbanas, das favelas e cortiços; ela continuará ao lado dos drogados e das vítimas do comércio de morte, dos aidéticos e de todo tipo de chagados; e continuará a acolher nos Cotolengos criaturas rejeitadas pelos “controles de qualidade” estéticos aplicados ao ser humano; a suscitar pessoas, como Dom Luciano e Dra. Zilda Arns, para dedicarem a vida ao cuidado de crianças e adolescentes em situação de risco; e, a exemplo de Madre Teresa de Calcutá, ainda irá recolher nos lixões pessoas caídas e rejeitadas, para lavar suas feridas e permitir-lhes morrer com dignidade, sobre um lençol limpo, cercadas de carinho. Continuará a mover milhares de iniciativas de solidariedade em momentos de catástrofes, como no Haiti; a estar com os índios e camponeses desprotegidos, mesmo quando também seus padres e freiras acabam assassinados.
 E continuará a clamar por justiça social, a denunciar o egoísmo que se fecha às necessidades do próximo; ainda defenderá a dignidade do ser humano contra toda forma de desrespeito e agressão; e não deixará de afirmar que o aborto intencional é um ato imoral, como o assassinato, a matança nas guerras, os atentados e genocídios. E sempre anunciará que a dignidade humana também requer comportamentos dignos e conformes à natureza, também na esfera sexual; e que a Lei de Deus não foi abolida, pois está gravada de maneira indelével na coração e na consciência de cada um.
 Mas ela o fará com toda humildade, falando em primeiro lugar para si mesma, bem sabendo que é santa pelo Santo que a habita, e pecadora em cada um de seus membros; todos são chamados à conversão constante e à santidade de vida. Não falará a partir de seus próprios méritos, consciente de trazer um tesouro em vasos de barro; mas, consciente também de  que, apesar do barro, o tesouro é precioso; e quer compartilhá-lo com toda a humanidade. Esta é sua fraqueza e sua grandeza!


Cardeal  Odilo Pedro Scherer é Arcebispo da Arquidiocese de  São Paulo/SP.
Fonte: Artigo publicado em O ESTADO DE SÃO PAULO, ed. 11. 04.2010.