21 de julho de 2007

Política versus religião: a degradação da moral e da ética e a busca da sociedade por respostas que atendam aos seus anseios.


Na conjuntura política atual onde a corrupção parece permear o rol daqueles que foram eleitos pelo povo, daqueles que detém o poder, daqueles que legislam em favor de si mesmos quando deveriam legislar em favor da nação, torna-se cada vez mais crítica a situação do país e mina cada vez mais ois ideais da população por uma sociedade mais justa e igualitária.


Os problemas colossais assolam a nação brasileira. É a saúde pública que pede socorro, a segurança tem medo e põe medo, a educação não mais educa, a infra-estrutura não sai da "infra", pois nada mais se estrutura. São estradas destruídas, rodovias sem condições de tráfego, cidades sem o mínimo de saneamento básico, enfim, o caos. Não há investimentos para implementar a solução destes problemas crônicos, ou quando há, são investimentos isolados que, na sua grande maioria, são abocanhados pelos corruptos e corruptores.

O que se tem veiculado atualmente pela mídia é a vergonha em que o Brasil se encontra, um verdadeiro lamaçal que desponta no cume do iceberg. As inúmeras operações da Polícia Federal têm revelado um universo extremo de vergonha e sujeira no cenário da política nacional. E isso, como foi dito, é apenas a ponta do iceberg. Não se sabe os inúmeros "rombos" que têm sido dado aos cofres públicos. O que vemos é, uma vez ou outra, algo que vem a público e que ilustra apenas a ponta da barbárie brasileira.

Então, nesse universo em que a massa de desempregados, de miseráveis, de uma classe média que se vê sufocada pela carga tributária imensa, pelos juros desleais, onde o empresário não pode ampliar seu quadro de funcionários devido aos altos tributos, é plausível que haja o descrédito pela política como é apontado.

"o mundo está sendo reencantado: o maravilhoso, o miraculoso, o esotérico, exercem uma atração que o político não exerce. Porque na falta das utopias libertárias, precisamos nos apegar a algum sentido da vida. E já que esse sentido não aparece no espaço da subjetividade, da espiritualidade, do transcendente" (BETTO, 2003, p. 183).

Isto que Frei Betto coloca se encaixa profundamente à realidade que vivemos hoje. A política está desacreditada, não tem oferecido solução para os problemas da nação, o Brasil, ao qual nos referimos nesta reflexão. Então, diante de tantas mazelas, de tantos cânceres que estão alojados na estrutura do país, surge o transcendente como uma maneira de propiciar respostas e soluções que aquela não oferece.

Então, olhemos para o cenário das favelas nas grandes cidades, onde predomina a falta de oportunidades, a ausência de todos os direitos possíveis a que o cidadão deveria ter acesso: moradia, escola, saúde, transporte, segurança, saneamento, lazer, esporte, entre outros. A violência e a discriminação ali estão arraigadas.


Como acreditar que a política exerceria um papel de socialização desses indivíduos mormente à conjuntura atual de corrupção e saqueio do dinheiro público? Como acreditar, ainda, diante do lamaçal de falcatruas que aí está?

São questões extremamente instigantes que nos levam a pensar que neste ambiente praticamente inóspito - as favelas, tomadas no nosso exemplo - sejam um celeiro para as múltiplas manifestações transcendentais. O que as vias normais não podem responder nem solucionar, talvez o místico o possa. Não queremos afirmar que isto ocorra apenas nas favelas ou nas populações menos favorecidas. Mas é típico de todo ser humano buscar respostas e soluções, e isto o impulsiona para o transcendental. Então as pessoas buscam o remédio para suas dores mais profundas nas inúmeras manifestações religiosas, principalmente as de cunho neo-pentecostais. 

BETTO afirma ainda que "as pessoas querem uma religiosidade de pret-à-porter, de relação pessoal com Deus (...)". Assim entra-se em contato direto com Deus e Ele responderá aos anseios do indivíduo. "Basta ficar no aleluia, para aliviar o coração, (...) mas nada de amor ao próximo, de justiça social, pois isso é coisa de política e não dá para misturar".

Essa dicotomia entre religião e política que BETTO faz questão de colocar que não deve haver separação, pois a religião deve levar a uma ação política, causa-nos uma série de reflexões que precisam ser melhor estudadas e aprofundadas.

O ser humano aspira a esse encantamento, à beleza, ao místico, ao esotérico, e isto tem sido celeiro para que também os corruptores se insiram no meio religioso e arranquem ainda da população menos esclarecida aquilo que a corrupção política ainda não conseguiu tirar. Dizer que numa "Fogueira Santa" você depositará a maior quantia possível para ter seus desejos alcançados, ou induzir a que pessoas que mal possuem o dinheiro do pão saquem de seus bolsos para alimentar o patrimônio das igrejas, talvez seja mais cruel, inclusive, que a corrupção política. Ao menos esta rouba sorrateiramente, enquanto que aquela o faz com argumentação e em nome de Deus.

Assim, a educação esbarra nessa gama de problemas que dificultam cada vez mais a emancipação do indivíduo que jaz nestas situações supracitadas.

Edson Marques Brandão é graduado em Matemática, e pós graduando em Docência do Ensino Superior.